segunda-feira, dezembro 15, 2008

Não me inspira mais - 137

Foi-se o tempo que você me inspirava. Bastava um sorriso para eu correr para o meu quarto e escrever uma breve poesia. Ou, tantas vezes, era suficiente um "não" para eu derramar uma lágrima sobre o papel branco... eu não conseguia reproduzir em letras garrafais o que sentira. Infelizmente, você não sentia a caneta cortar a pele de suas costas... ou você podia senti-la, mas preferia se calar diante de uma figura fantasmagórica como a minha naquela festa estranha e rodeada de gente esquisita?
Prazer, este ser com o cabelo desarrumado sou eu. Ando com sono, durmo pouco, mas me divirto tanto. Você nem imagina... Não me drogo, faço sexo seguro, não assino cheques, economizo dinheiro, planejo sonhos, deixo os jornais espalhados pelo quarto, deito no chão, olho para o céu sem estrelas, fantasio uma história de terror, risco o seu nome do meu roteiro e tiro a palavra você do meu dicionário... Não há senhas... reveladas!

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Confessionário - 136

Era quase madrugada, eu me preparava para sair, me divertir, me drogar com músicas que não conheço nome, quando eu peguei o telefone e vi que você havia me ligado. A ligação foi feita pela manhã, quando eu ainda tinha pesadelos contigo. Você me assustava ao tentar, minuto após minutos, tocar os meus lábios com os seus dedos. Não queria me beijar, mas sim sentir a sensação das palavras rudes que eu dissera para você tantas vezes. Você, sem querer, me passa a imagem de ser superior. Gosta disso, eu sei. E, quando se vê surpreendido pela minha maneira de dançar, foge e se esconde debaixo da mesa localizada no canto direito de seu quarto. Eu, no canto do olho, continuo a bailar a clássica canção que, de repente, toca no rádio de pilha que eu comprei em uma promoção qualquer. Não lembro o nome do vendedor. Só sei que fiquei surpreendido com a atenção dispensada daquele senhor de cabelos brancos. Aliás, ultimamente, qualquer olhar já é suficiente para pensar que, no mundo, a reciprocidade ainda reina. Uma pena que, no espaço que nos separa, é impossível encontrar a troca mútua. Eu cansei de esticar as mãos, de tentar te abraçar, de te contar mentiras...
Ontem, ao terminar de me arrumar, eu fui para o meio da rua. Chovia uma chuva que não me molhava. Mas eu olhei para o céu, respirei fundo e andei por um beco escuro, silencioso, quase um outro mundo. Eu preciso de novos mundos... ou, talvez, universos que mostrem que o caminho que eu sigo seja possível... Entrei em uma casa pequena, havia, veja só, o mesmo rádio de pilha que eu comprara na feira, na promoção. Liguei o rádio e, de repente, a minha música preferida. A mesma que você odeia... "A Little Respect"...