quarta-feira, julho 29, 2009

Perseguição - 160

Cheguei a pensar que detestaria sua presença em minha sombra. Seus falsos passos, muitas vezes, me incomodavam. Neste segundo, porém, alegra-me saber que, da esquina, você espia o que eu faço. Ou, escondido no nosso esconderijo, você observa o que eu não faço de maneira alguma. O rato, agora, talvez seja eu. Você seria o gato? Provavelmente, não. Prefiro dizer que, com seus óculos insubstituíveis, você apenas é um onipresente. Assim como eu brinquei de ser...

sábado, julho 25, 2009

Não vá embora - 159

Não me abandone. Não esqueça de me ligar para dizer "boa noite" e, caso lembre, para já me desejar "bom dia". Não esqueça de lembrar de mim quando passar por aquele velho boteco, onde, geralmente, escondo minhas lágrimas. Não esqueça de visualizar o meu rosto quando pegar o livro que te dei... ou melhor, ao ler aquela mesma página onde deixei marcas de batom, de cerveja, de tristeza. Não esqueça de enviar cartas para me dizer onde devo me situar... estou me encontrando. E, ao final da caminhada, quero avistá-lo na minha frente ou no retrovisor.

P.S: "So don't go away/ Say what you say/ But say that you'll stay/ Forever and a day... in the time of my life/ 'Cause I need more time, yes I need more time/ Just to make things right" ("Don't Go Away", do Oasis)

quarta-feira, julho 22, 2009

Repeat with me... in english! - 158

Quando eu avistei o mar, tive a certeza de que te amei por alguns segundos... Revi quase toda a cena: me equilibrando em barbantes, correria até as escadas, gritaria o seu nome, você fecharia os olhos... e nós iríamos nos beijar. Um beijo de adeus, um beijo de nunca mais quero te ver. Eu novamente perdi a oportunidade de segurar a sua mão... a mesma mão que, tantas vezes, quis me tocar, mas pensou, pensou e procurou, talvez, tocar outras superfícies. Menos complicadas! Você mudou a minha vida... e eu tenho a certeza de que mudei a sua ao mostrar os meus demônios e quase esconder os meus anjos. O céu é imenso... o mar, infelizmente, também é. Da próxima vez, quando eu visitar o mar, não estarei entoando nenhuma lenda da sereia... se estiver concentrado, estarei mirando algum lado lá longe a fim de encontrar sua pele bronzeada e seus olhos ora verdes ora azuis.

When I saw the sea, I was sure that I loved you for some seconds... I saw again the scene: I would run up to stairs, I would scream your name, you would close your eyes... and I would kiss you. A goodbye kiss, an I am never going to see you again kiss. I lost the opportunity of holding your hand.... the same hand that, sometimes, wanted to touch me, but it thought, it thought and looked for other places. Less complicated! You have changed my life... and I know I have changed yours. when I showed you my demons and hid my angels. The sky is huge... so is the sea! When I see the sea again, I am not going to sing any song... if I have concentraded, I will be watching something so far, because I wanna find your skin and your blue and green eyes.

P.S: "Eram jovens, educados e ambos virgens nessa noite, su anoite de núpcias, e viviam num tempo em que conversar sobre as dificuldades sexuais era completamente impossível. Mas nunca é fácil" (trecho de "Na Praia", de Ian McEwan)

sábado, julho 18, 2009

Para fora - 157

O meu vocabulário é outro. Passa, talvez, por uma nova revisão. Já pensei em tirar a palavra "você" para colocar outro absurdo. Já pensei em deletar palavras belas, para sentir o açoite das letras garrafais rudes. Mas, há algum tempo, não penso em vingança... por que pensaria?... ou em até mesmo em um doce lamento. Eu sigo em frente, olhando para os lados... há sorrisos belos, há risadas engraçadas, há brilho, há novidade... Qual a próxima estação? Onde eu estou? A placa indica para qual direção?

P.S: "É bom saber, andar acompanhado de ti, faz meu coração se sentir melhor" ("É Bom Andar a Pé", Simoninha)

quinta-feira, julho 16, 2009

Despreenda-se! - 156

Foi-se o tempo em que, despreendido de correntes, corria para o meio da rua e dava um berro. Era uma liberdade insana, capaz de oprimir aqueles que ouviam uma música silenciosa em seus ipods. Para sair da rotina, às vezes, eu vestia o pijama mais velho. Poucas vezes, escolhia a roupa que só os mais inteligentes podiam ver e dançava o último tanto em Paris. Geralmente, sozinho. A maioria estava ocupada demais para aceitar o meu convite para o baile imaginário.
Hoje, porém, cubro o meu rosto com a coberta para não ver o dia chegar. Foi-se o tempo em que, despreendido de amarras, eu só usava os óculos escuros para me defender da prisão.

quarta-feira, julho 15, 2009

O Outro - 155

Eu não gosto da roupa dele. Não gosto da tentativa de forçá-lo a gritar. Não gosto de quase nada. Do cabelo, do rosto, do modo como tenta ser agradável comigo. Eu não gosto do jeito que você não intervém em cada uma dessas ações. Deixa tudo virar de cabeça para baixo. E, depois, quer que eu ainda olhe pela janela do ônibus?
Eu não gosto dos tênis dele. Não gosto de saber por onde ele anda... sempre em torno de sua casa, à espera de te iludir e mostrar novas barbaridades. Não gosto de nada! Das mãos, do tempero, do verbo. Eu não gosto do jeito que você interpreta as falsas falas. Deixa a mentira sair sem censura. E, depois, quer que eu ainda te encontre no mapa?

P.S: "Eu não sou eu nem sou o outro; Sou qualquer coisa de intermédio" ("O Outro", de Mário de Sá Carneiro, musicado por Adriana Calcanhotto)

segunda-feira, julho 13, 2009

Engolir o mundo - 154

Estou com a estranha sensação de não pertencer a lugar nenhum ou a todos os lugares ao mesmo tempo. Quero estar na Índia, no Japalalão, no meu quarto, deitado ao seu lado. Quero viajar ao Japão, ficar louco com drogas sintéticas berlinenses, repousar sob o chuveiro quente da minha casa. Quero beijar na boca da australiana, sentir o gozo do kama sutra e dançar tango. Quero ler os textos proibidos chineses, descobrir o sorriso malicioso de Monalisa, sambar o forró do Pará, surfar nos olhos dos surfistas... Deixe-me ir, preciso andar...