segunda-feira, janeiro 07, 2008

A girar - 14

Não havia mar, não havia sereno, não havia saia rodando. Mas, mesmo assim, ela girava, sozinha. Ria e girava. Estava sempre a girar, lá do alto. Não sei se era uma autêntica baiana ou se já era experiente no anual Carnaval. Não sei nada sobre ela. Só a vi girando, balançando os braços, sorrindo para o mundo, enquanto a música era ouvida...
No palco, quase como um reflexo, os pés no chão denunciavam a simplicidade de uma voz que encanta e alcança até mesmo aqueles que preferem ficar sentados. Eu não me acomodo: levanto e jogo a pouca poeira para cima. A volta por cima, já dei.
E os três, como um transe, encontram seus deuses, fazem reverências... sempre a girar.

Música:
Quem esteve no Sesc Pinheiros, no último domingo, foi testemunha de um show ímpar. No palco do belo teatro Paulo Autran, Teresa Cristina e o Grupo Semente evocaram deuses, grandes compositores e novos letristas no show "Delicada". Aliás, o título da apresentação e do último trabalho de Teresa Cristina encontram sentido no cenário da apresentação: um pano branco ao fundo do teatro no qual está desenhada uma grande rosa rosa...
Teresa Cristina, como ela mesma se define "uma tímida corajosa", cantou canções próprias - que não deixa de ser uma novidade em sua carreira -, de Paulinho da Viola (seu grande padrinho no mundo do samba), Candeia, Caetano Veloso e Zé Renato, entre outros.
Em um dos momentos mais emocionantes do show, quando cantava "Sete Cantigas para Voar" (de Vital Farias) - uma linda canção, por sinal -, Teresa Cristina ensaiou um choro ao ouvir a voz de seu sobrinho na platéia. Continuou a cantar com a voz chorosa e pediu para repetir aquela parte. Parou e pediu desculpas à platéia dizendo: "Faz tanto tempo que não vejo meu sobrinho, minha família... e estou tão feliz que eles estão aqui na platéia." O público, que lotava o teatro, lógico, aplaudiu a sinceridade da cantora.
Sinceridade esta que também foi traduzida quase ao final do espetáculo, na hora em que Teresa agradecia ao público. "Estou muito feliz com a presença de vocês. Sabe como é: todo artista tem medo de que não tenha público, ainda mais no começo do ano. Todo mundo tem direito a estender as férias (risos)."
Na hora do bis, é claro, não faltaram os pedidos da platéia. Lá do fundo, um rapaz gritou "O Meu Guri", de Chico Buarque. Não prontamente, uma vez que a música não estava no repertório da apresentação, Teresa Cristina e o Grupo Semente iniciaram a música. E, assim, fui testemunha de mais uma bela interpretação desta música: antes, em novembro, vi a cantora Elza Soares, no mesmo Sesc Pinheiros, cantar "O Meu Guri" à capela, logo no início de seu show.
Teresa Cristina e o Grupo Semente desfilam talento e simpatia pelo samba, pelo maracatu, pela macumba baiana, mas, acima de tudo, pela música brasileira... que assim seja! E que outras sementes produzam tantas Teresas Cristinas.