domingo, fevereiro 03, 2008

Um sinal de fumaça - 29

Já não existiam cartas. Ele desaprendera a escrever o próprio nome, e as palavras que desvendariam o segredo dele já não ganhariam a imortalidade em um papel em branco. Ele precisava de uma pessoa para escrever por ele. Ele precisava de alguém para escrever, primeiro, o sujeito, depois o verbo e, enfim, o predicado, termos que diriam o amor que sentia.
Ele, então, apelou para o telefone. Mas, ao discar os números, ao ouvir a voz do outro lado da linha, desaprendera a falar o "alô? Tudo bom?", e aquele silêncio reinou absoluto. Uma silêncio que durou dois minutos e trinta e dois segundos. Em seguida, um monólogo se tornou soberano: do outro lado da linha, surgiam sílabas inesperadas: um vai-e-vém de adjetivos necessários para crer na mentira precisa... Mal sabia ele que era tudo verdade.