quinta-feira, setembro 18, 2008

Talvez seja o fim - 123

Ela começou a pensar que seria o fim. Já não sentia medo de encontrá-lo debaixo da cama. Já não chorava ao ligar e ele não atender. Já notava que o coração não saía pela boca quando ele sussurava frases sem sentido em seu ouvido. O amor acabou. E, estranhamente, ela já consegue escrever essa frase composta por um artigo, um substantivo abstrado e um verbo no pretérito perfeito em seu diário sem tremer, sem, ao menos, titubear. O amor esticou o braço e pegou a primeira carona... Saiu da casa dela mais secreta. Mas, se ele perguntar com todas as palavras, uma a uma, ela vai responder... "Você continua em meu coração".

P.S: "E o próximo instante, eu sei, é quase lá/ Peço não saber até você voltar" ("Fez-se Mar", dos Los Hermanos)

quarta-feira, setembro 17, 2008

Elevador - 122

Quando a porta do elevador se abriu, alguns já esperavam pela entrada dele. Ele entrou, encontrou espaço no canto esquerdo, mirou os olhos para o chão e esperou o elevador chegar ao seu destino final. No entanto, diferentemente do que costumara fazer, não deixou o elevador assim que ele chegou ao térreo. Esperou todos saírem e, mesmo com a porta sendo segurada por um rosto tão familiar, preferiu esperar dentro daquele espaço minúsculo. E, assim, observou, calmamente, a porta se fechando bem devagar. Aquela ação durou uns quinze segundos, mas parecia infinita... Era, provavelmente, a primeira vez que agia de um modo tão particular.... Não sentiu remorso. Não ficou com vontade de chorar. Talvez tenha ficado curioso quanto ao que poderia encontrar ao ver o sol... No entanto, tinha certeza de que a escuridão do elevador ainda reservava surpresas... Havia uma lanterna dentro da mochila dele!

terça-feira, setembro 16, 2008

Corta-me! - 121

Há uma semana que não te escrevo. Desculpe-me, mas deixei de amá-la. Estranho admitir isso, mas é a verdade. Surgiram novos olhos morenos. Quase despercebidos. Quase. E, assim, ignorei todas as mensagens que você não decifrou e decidi tentar arrematar algumas cruzadas deixadas pelo chão. Irritava-me o seu ódio pelos clichês e o desrespeito pelo abraço. Esses segundos tão preciosos capazes de provocar sentimentos mil.
E, por essa razão, fui seduzido, novamente, pelas palavras que estamos cansados de ouvir. Entre tantos objetos de outros países, não tirei os olhos das mãos lisas. Aquelas mesmas que, segundos depois, perderam o medo e fizeram um carinho no meu rosto. Onde as suas estavam? Talvez no bolso procurando alguma mentira para contar...

segunda-feira, setembro 08, 2008

It's meeting the man of my dreams... - 120

... and then meeting his beautiful wife". Foi esta a música que ela ouviu, perfeitamente, no meio de tanto barulho, quando o avistou encostado na parede. Ele observava a bagunça desorganizada, enquanto outros tantos tentavam se equilibrar sobre poças d'água. E, permeado por silêncios avassaladores, falaram sobre quase tudo. Ela praticamente não mentiu, algo que costumava fazer. Gostava de parecer mais adulta, mais culta, mais interessante entre tanta gente chata e sem nenhuma graça. O nome falso foi o real. O quase beijo foi o momento mais brilhante da noite.

P.S: "A traffic jam when you're already late/ A no-smoking sign on your cigarette break/ It's like 10,000 spoons when all you need is a knife" ("Ironic", de Alanis Morissette)

domingo, setembro 07, 2008

Gira mundo, gira pista - 119

A Lua ainda era a grande protagonista quando ele tomou a pista para si. Entoando canções de infância, cujos versos eram lembrados milimetricamente, ele andava em um labirinto. Acabara de sair de uma festa, cansado, extasiado de tanto abraçar a liberdade que cabia em seus braços. Tinha medo de tanta vontade de... ir, terminar, beijar, girar interruptamente. A chuva quase o castigara, mas, ao olhar para os céus e para os infernos, respirou fundo e decidiu correr todos os riscos... o que tinha na próxima esquina? O que denunciava a luz tão clara, escondida embaixo do grande viaduto? Tinha conseguido decifrar a mensagem, mas uma palavra, no meio das frases curtas, deixava-o repleto de dúvidas. Já havia um Sol diferente no céu...

P.S: "Eu me ofereço inteiro e você se satisfaz pela metade" ("A Seta e o Alvo", de Paulinho Moska)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Fale por mim... - 118

Ele disse... "mesmo só nos vendo no verão, saiba que, mesmo distante de você por tanto tempo, sinto-me sempre tão presente. Parece que, quando tomo determinadas decisões, eu tento imaginar qual seria a sua opinião. Talvez nem seja preciso o contato diário... temos e fazemos histórias..." Tenho consciência que essas não são as palavras exatas que ouvi pela televisão... mas, ao observar o olhar de lágrimas do personagem, visualizei o seu rosto e me lembrei das vírgulas que você utiliza em suas frases inacabadas...