domingo, agosto 31, 2008

Eu já disse que te amo ontem? - 117

Não percebi você tocar os meus cabelos sujos. Acho que ainda dormia sob o sofá. A televisão, ligada, já denunciava que o filme acabara há 17 minutos. A pipoca, algumas perdidas pelo chão, mostrava que havia sido uma sessão de cinema solitária. Não me importava... chorei mais uma vez com aquele ator de olhos de criança - ele, mesmo com a idade adulta, mantinha aquele olhar dócil, infantil, ingênuo até...
Você não chegou a ver os meus olhos inchados. Ainda bem... talvez ficasse preocupado. Perguntaria por que tinha chorado. Mentiria... "Eu já disse que te amo ontem?", você silenciou ao meu ouvido... eu não ouvi! Eu não ouvi...

quinta-feira, agosto 28, 2008

Quem Sabe - 116

Descobri que nada sei. Mas, também, descobri que cantar no mais alto volume libera todos os diabos e deuses que existem dentro de mim. Acho que ainda era madrugada quando me levantei e comecei a pular de felicidade. Ainda ao som do silêncio, lembrei-me da canção de versos tristes, mas cheia de energia. Corri pela rua, ainda descalço, com a vontade de gritar cada uma daquelas sílabas. Talvez, transformando-as em perguntas.... "Quem sabe o que é ter e perder alguém?" ou "Quem sabe o que é ver quem se quer partir?". Será que ouviria alguma resposta das janelas fechadas? Ou pela janela do carro que passa apressado e quase me atropela? A música acabou, mas a dança ainda me embala...

P.S: "Faz tanta falta o teu amor, te esperar.../ Não sei viver sem te ter/ Não dá mais pra ser assim" (Rodrigo Amarante, do Los Hermanos)

quarta-feira, agosto 27, 2008

Mãos dadas - 115

Você já prestou atenção nas linhas que cortam as palmas da minha mão? Elas denunciam um caminho para o qual não há placas, nem pessoas, nem pontos finais... e sim reticências espremidas entre tantos outros pontos de interrogação. Talvez seja resultado do autoritarismo do ponto final. Aquele mesmo que você teimou em não colocar. "Foi apenas um espaço", você me contou em segredo. Mas qual o cumprimento desta distância toda? Ainda conseguirei te abraçar, mesmo você estando do outro lado da rua? Estique os braços... mostre seus dedos.... suje-os. Há livros cheios de incertezas com páginas já amareladas, consumidas pela dor do tempo...

sábado, agosto 16, 2008

Posso dormir contigo nesta noite? - 114

Não sei como eu dormi... nem lembro a que horas deixei o travesseiro cair da cama. Já era de madrugada, a lua ainda estava cheia... Não acreditava que havia pedido para dormir contigo nessa noite. Ainda sonhava com o dia que passamos juntos. Eu, minha mochila, um bom livro para ler, marcado na página 27. O que lia? Pequenos retratos de todos os meus nós. Uma foto também denunciava a gargalhada dada no meio da avenida silenciosa... fazia frio? Eu não sabia! Os seus longos braços denunciavam que não. Contamos as estrelas escondidas na poluição? Brincávamos de descobrir desenhos em nuvens e tudo brilhava...

P.S: fiquei ausente nesses dias devido às Olimpíadas... impossível não se emocionar com o Cesar Cielo e seu choro no alto do pódio, com a Ketleyn Quadros e a sua humildade, o salto da Maurren Maggi, as cortadas certeiras da seleção feminina de vôlei e todos os outros atletas. Para mim, três nomes simbolizam os Jogos Olímpicos de Pequim: Natália Falavigna e seu bravo desejo de conquistar uma medalha; a superação e a constante tensão de provar sempre do Marcelinho, do vôlei (ele é sensacional!); e o eterno (re)começo da guerreira Mari...

sexta-feira, agosto 08, 2008

Claridade - 113

Não há uma nuvem no céu. A luz do Sol chega aos meus olhos, que, incrivelmente, permanecem abertos. Já observo as situações de forma mais clara. Foi tão importante ter chorado sobre os seus ombros. Ou, ao menos, ter fingido que há som no silêncio. Sem querer, você ditou as palavras do meu vocabulário inventado. Mas, por favor, não se esqueça que há uma nova palavra para ser aprendida. "Qual", perguntou um tanto quanto curiosa. "Aquela que irá encerrar mais um texto secreto de seu lindo diário", respondi calmamente... as dúvidas permaneciam. Ficamos calados... Decodificamos todas as mensagens...

terça-feira, agosto 05, 2008

Abrir a porta - 112

Quando a campainha tocou, abri a porta sem perguntar quem era. E assim você entrou em minha vida. E logo sentou no sofá. E, como se já conhecesse a disposição dos objetos, pegou o livro que eu lia... observou o desenho que ilustrava a capa e chorou. Eu tentei olhar para você... tentei encontrar em você algum rosto conhecido. Apresentamo-nos! E, de repente, descobri que já te conhecia... talvez de outras vidas. Não foram necessários dias, horas, vidas... Tchau! Adeus! Eu, daqui da minha janela, vejo se pegou o caminho correto...

domingo, agosto 03, 2008

15 Minutos - 111

Quinze minutos. Talvez esse seja o tempo suficiente para eu estar completo, inteiro, seja no meio da rua, lá no alto do prédio ou com a cabeça encostada em seu ombro. Não preciso ficar mais tempo do que isso... na verdade, o tempo não importa muito. O essencial é estar inteiro e não dividido em minutos ou segundos. Não me pergunte que horas são... eu irei chegar ou partir quando a minha marca já estiver cicatrizada. Pode acontecer, porém, que eu chegue e você nem me veja... vou sorrir de longe, apreciar seu rosto e os seus olhos sempre atentos... Posso fazer uma foto sua?

sexta-feira, agosto 01, 2008

Quase ouvi... - 110

Ela falava demais... não deixava um espaço para eu expressar minha opinião. Eu, finalmente, diria o que eu penso, o que eu quero, o que eu desejo. Abrir os braços e sentir o abraço dela. Oferecer meu rosto para o carinho. Mostrar a minha vontade de beijar um beijo interminável. Eu, então, fiquei quieto, observando o seu andar, o seu jeito de falar... tive vontade de dar risadas da energia frenética daquela moça morena. Na realidade, ria de felicidade de ter a oportunidade de estar ao lado dela...
Ela foi embora rápido... tudo foi muito rápido. O abraço, o adeus, o encanto... No outro dia, ela me enviou uma mensagem... "falo demais! Vivo demais! Tudo é demais... por essa razão, eu quero me multiplicar, estar em diversos lugares ao mesmo, mas não me dividir. Estar sempre inteira... Com você, meu mundo não fica completo... ela já é completo antes, mas você tem que estar lá dentro".

P.S: "Ando por aí querendo te encontrar, Em cada esquina, paro em cada olhar" (Marisa Monte e Moraes Moreira)