domingo, dezembro 30, 2007

Instante - 11

Há algum tempo gostaria de ter um significado próprio, só meu, da palavra instante. Palavra, esta, que me assombra, me alegra, me diverte e me suporta há alguns dias. Se durante uma madrugada, ainda no calor da música, ouviu "me abrace pelo espaço de um instante"; ao som da chuva, cantou, ao ler uma frase de um livro, "foi apenas um instante - menos: o intervalo entre dois instantes"... Ainda tinha dúvidas, mas decidi não procurar o dicionário. Quero patentear o significado só meu...
Relembrou uma outra canção, que pouco ouviu, que pouco pediu para tocar... o autor, da música, porém, afirmou que sabia qual era o próximo instante. Sem rodeios, disse.: "é quase lá". Mas, aonde? Ele, sabiamente, respondeu: "Peço não saber até você voltar"... que filho da puta!, cheguei a pensar.
Neste instante, aqui, digo tchau... já no próximo ou entre este e aquele instante, eu sei lá.

Referências:
Neste post, relembrei frases e versos que usam (e abusam) da palavra "instante". Para encontrá-la, basta ouvir as músicas "Eva" (que ficou conhecida na voz da Banda Eva) e "Faz-se Amar" (linda composição de Marcelo Camelo, do Los Hermanos, presente no álbum "4") e ler o livro "O Passado", de Alan Pauls.

sábado, dezembro 29, 2007

Uma grande pista - Dez!!!

As ruas dificilmente se transformam em uma grande pista de dança. Mas, entre carros que aceleram em estradas tão curtas, pedestres que só olham para o chão tentando achar o dinheiro gasto no restaurante e prédios que dialogam com os anjos, ele inventa uma coreografia própria. Olhando daqui, sem a interferência de um poste, bate palmas e imagina a linda canção que escreveu quando chorou pela segunda vez.
Atravesso a rua e, hipnotizado pelo reflexo do espelho que denuncia um ser de outro planeta, me atrapalho e perco o passo que ele apresentou para uma platéia que não pára para olhá-lo. Imagino que tenha sido um grande salto, o mesmo que deu quando soube que tinha ganho a partida. E ele pára de repente! uma música lenta surge em sua pele... movimentos lentos, ele ri pela primeira vez. Tantas tristezas, chega a imaginar... mas abre os braços, respira fundo e... recolhe o chapéu deixado no chão.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Os olhos brilhavam? - número nove

Imagino que ela tenha se apaixonado por ele ao ouvi-lo contar histórias de Buenos Aires ou das últimas viagens que ele fez para os Estados Unidos, quando a neve o impediu de visitar os pontos turísticos da cidade de Minessotta. Ele falava sobre as inúmeras aventuras, os lugares que conheceu, o frio intenso, o jogo de futebol no estádio do Boca Juniors lotado, o Maradona, os trabalhos que não o impediam de aproveitar a vida. Dele, os olhos, verdes, brilhavam. Os delas, escuros, também.

terça-feira, dezembro 25, 2007

Você vai me esquecer? - número oito

Ela deixou uma fotografia com ele. Uma imagem na qual aparecem juntos. Uma lembrança. A carta que escrevia, prometeu enviar depois. Mas não sei se ela realmente a enviou. Escreveu e, chorando, pediu, por meio de letras que saíam tortas devido ao caminho tortuoso do ônibus velho, para ele não esquecê-la. Esse era o seu maior medo. Um medo demonstrado sem querer e, algumas vezes, por meio de broncas e um choro raivoso.
E quem não tem medo de ser esquecido devido ao tempo e ao novo? Você já aparece em uma foto ao lado dela? Você relê seus textos? Você olha para as estrelas?

Cinema:
Ontem à noite assisti ao filme "Central do Brasil" novamente. Não sei quantas vezes assisti a esse longa, dirigido por Walter Salles Jr., mas, a cada vez que o assisto, capto um detalhe grandioso do filme. Desta vez, foi a atuação impecável de Marília Pêra como Irene, amiga de Dora, a personagem da (sem comentários) Fernanda Montenegro.
Outro detalhe interessante, não no filme - que é sensacional! -, fui perceber ao entrar no site de Central do Brasil. Como assistentes de direção de Walter Salles, estão os diretores Sérgio Machado (que viria filmar o forte e impactante "Cidade Baixa") e Kátia Lund (diretora de alguns episódios de "Cidade dos Homens" e co-diretora de "Cidade de Deus").
Embora não seja o meu filme preferido de Salles - em primeiro lugar está o longa "Terra Estrangeira", que, na minha opinião, tem uma das cenas finais mais lindas do cinema -, "Central do Brasil" merece menção na lista de grandes filmes nacionais.

domingo, dezembro 23, 2007

O escuro (?) como testemunha - número sete

Ele não sabia qual o horário que o relógio marcava. A única certeza que tinha era da música que ele lembrava e dava vida. E, atravessando pontes, ruas, buracos, cantarolava tendo somente o escuro como testemunha. Evocava as rainhas do mar, o antigo sucesso e, sem querer, inventava um novo verso. Estava livre para voar...
Ele também inventava diálogos. Tentava criar imagens futuras. Mas algumas cenas seriam editadas, pensava. E nem mesmo os deuses teriam força o suficiente para montar um final diferente.
Ele caminhava à noite... se um dia estava com os anjos e os demônios, lado a lado, no outro, confessava expectativas, desejos, medos, segredos... ainda era noite. Ainda estava cedo para amanhecer... era o escuro como testemunha. Único e total.

Cinema:
Assistam ao filme "Mutum", estréia na direção de Sandra Kogut. Para quem mora em São Paulo, o filme está passando somente no Cine Bombril, que fica no Conjunto Nacional, na avenida Paulista. Baseado na obra do escritor Guimarães Rosa, o filme conta a história do menino Thiago (Thiago da Silva Mariz), cuja atuação é sensacional - reparem no olhar do garoto nas cenas. Fiquem atentos à seqüência na qual Thiago quebra algumas gaiolas de madeira, na qual a diretora parece passar a idéia de que a infância, para Thiago, terminou... forte e sensível ao mesmo tempo!
No elenco do longa, ainda estão o sempre excelente João Miguel (de "Cinema, Aspirinas e Urubus") e Izadora Fernandes, que faz o papel da mãe de Thiago. Ela, embora não apareça muito no filme, tem uma atuação sensacional - rouba a atenção quando está em cena.
"Mutum" foi escolhido o melhor filme do Festival do Rio e irá também concorrer a um prêmio no Festival de Berlim, que ocorre em fevereiro.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Pouco, muito pouco - número seis

Falta pouco para uma estranha liberdade. Quero viajar, sorrir, correr, viver, querer... eu preciso respirar um ar diferente. Se antes era limpo, tornou-se um tanto quanto rarefeito: a respiração se tornou difícil. Não é culpa de ninguém, não mesmo. É apenas uma necessidade minha. Só minha e de mais ninguém. Preciso me reciclar. Preciso freqüentar uma outra órbita. Dois dias... e os próximos prometem outros mundos.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Um passa para trás para... - número cinco

O cansaço ainda predomina. E como a correria é absurda, falta-me tempo para pensar, refletir se o "sim" foi bem dito. De repente, se foi dito em alto e em bom som. Ou se era melhor dizer "não". As escolhas de nossas vidas... Eu só peço um tempo para poder pensar: um minuto, talvez. Talvez, seja muito. Pode ser menos. O tempo, qualquer coisa, pode voltar; e assim terei menos dois segundos para fechar os olhos. Eu nem consigo mais piscar.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Um sossego - número quatro

Somente quando não temos total controle sobre um fato, um soco, uma calma, tendemos a sentir falta do jornal, da briga e do silêncio. Ultimamente, sinto falta de quase tudo quase. Faz tempo, por exemplo, que não converso com meus pais, apesar de eles descansarem tão próximos. Faz tempo que não ando sem pressa, com medo de chegar atrasado - e eu estou sempre atrasado. Tenho medo: ainda sou muito jovem para perguntar se realmente vale a pena.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Revisitas - número três

O sotaque mudou um pouco... e eu disse que não deveria mudar, que deveria permanecer o original. Tudo bem, eu desculpei. Afinal de contas, mais do que o sotaque, o que valia de verdade era a verdade que saía da boca. E eram reciprocidades. Naquele momento, porém, apenas "um boa sorte sempre" meu. Mesmo porque, na imensidão de tanta incerteza e de tantas poucas referências em que ele residia, momentaneamente, era preciso somente uma luz no fim do túnel. Não sei se fui responsável pela engenharia elétrica dessa construção, mas fiz o possível para ajudar.

sábado, dezembro 15, 2007

Caminhos - número dois

Ao andar, seja pelas ruas claras ou escondidas, em becos ou vielas, redescobrimos o modo de nos equilibrarmos. A cada passo, respeitamos uma cor diferente ou aprendemos ao observar que o azul da blusa é um outro azul. Fico confuso diante de tantas descobertas, mas, não menos, contente em saber que há sempre um mundo inteiro para descobrir, conhecer. E, mesmo ao lado de pessoas com as quais já revelamos segredos e mentiras, redescobrimos uma outra maneira de assistir à vida, voltamos ao passado para contar uma outra versão daquela história feliz...
E assim, as horas passam, a noite chega e é hora de voltar, recolhendo as migalhas de vida deixadas para trás.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Editorial - número um

Escrever... enquanto que para alguns uma página oca, vazia, em branco, é um desafio imensurável, para outros, trata-se de uma liberdade plena. Eu, na realidade, nunca me perguntei se eu gosto de escrever ou se, na realidade, eu prefiro fingir por meio de palavras. A verdade é que, muitas vezes, sinto necessidade de, por meio de letras que juntas formam palavras, ser testemunha viva do mundo. Ser testemunha do crime cometido em minha casa, do assalto a mão armada no centro da cidade, do choro da menina, do berro do técnico campeão, do seu suspiro, do segredo dele, do nosso sossego.
E, nesses momentos, tudo o que eu queria era apenas uma página em branco e um lápis na mão. Não sei o que escreveria, mas, com certeza, rascunharia desejos, frases soltas, textos curtos.
Volto a escrever neste humilde blog. O que me trouxe de volta? Não sei dizer... Talvez tudo isso que escrevi acima ou, talvez, a vontade de escrever outras mentiras.