quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Quase tudo - 41

Pensou que iria chorar ao vê-lo ligar para outra pessoa, enquanto ela estava repleta de idéias para o final de semana. Pensou que iria ficar triste, enquanto o via assistir ao programa da televisão ao invés de ver o pôr-do-sol. Pensou em tantos pensamentos enquanto o via pensar.
Foi quando ela percebeu que já tinha tudo. Seu corpo. Sua vontade. Seu desejo de pisar na terra. Paciência se você prefere pular as emoções. Chore, seu filho da puta! Grite o quanto você a deseja longe de sua vida. Diga, ao menos, uma verdade absoluta, mesmo que seja a que ela não quer ouvir. Você terá coragem de ligar de volta?
Ela treina olhando o espelho borrado de batom as frases que um dia pensa em te dizer... no entanto, ela sabe que ainda você é uma criança, que não está preparado para ouvir... em que mundo vives? Onde respira este ar que julga ser mais limpo que o dela?
Não apareça de repente... um dia ela não vai notar.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

O silêncio dos inocentes - 40!!!

Era um silêncio absurdo na mais movimentada avenida da cidade. Ninguém falava, ninguém comentava a bonita roupa da menina, os beijos molhados que o casal recém-separado deu ao sacramentar o fim da relação, a boa música que foi ouvida no rádio de pilha, o filme visto por meio da tela computador...
Era um silêncio absurdo, apesar da enorme vontade de gritar. Ou xingar. Seria tão bom proclamar ordens de mentira. Seria engraçado dizer "não", enquanto todos esperavam um "se". Seria irônico apelar por Deus? Seria certo não aceitar, quando todos cobiçam o seu lugar?
Era um silêncio barulhento. Dentro dele. Eram caminhos novos... e os rastros? Escritos para quem quisesse ler, criticar e dizer que estavam errados. E não é que estavam mesmo? No final, procure pelo "erramos".

P.S: este texto era para ser cuspido ontem...

domingo, fevereiro 24, 2008

Just D.A.N.C.E.

Não era uma fuga. Era um encontro. Arrebatador, diriam alguns. Ele fechou os olhos e observava tudo o que se passava dentro dele. Era quase um transe ao som de música esquisita, ritmada, quebrada... Ele apenas dançava. Alguns perguntariam se ele passava bem. Ele responderia: "Nunca estive tão feliz". E não seriam mentiras sinceras. Sinceras mentiras? Provável... Tudo o que ele queria era apenas dançar. Inventar um passo diferente. Não dormir, não acordar... ser e estar ao mesmo tempo.
Era um reencontro. Ele se via dentro dele. E não se assustava, não gritava, não chorava... apenas dançava. E você não seria convidado para compartilhar tantas emoções com ele. Encontre as suas... deseje as suas... tema as suas!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O céu não é tão azul - 38

Ele mergulhou pensando que o céu era só azul. Imaginou que encontraria estrelas, anjos tocando a música mais singela para ele. Ele acreditou que, definitivamente, estaria no paraíso. No entanto, se esqueceu das nuvens, que o impedem de ver as ruas, os carros apressados, a concorrência para chegar em primeiro lugar. Mas qual é a prova?
Porém, ele se esqueceu dos raios solares e da influência da Lua. Ele esqueceu de pedir licença para os trovões. E, perdido na imensidão do céu, ele não sabe se corre, se foge, se voa, se canta a mesma música, que, inclusive, prefere nem mesmo decorar o refrão. Ele está longe... mas já pensa em voltar para a terra, mesmo que muitos digam para ele continuar flutuando.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Caminhando contra o vento - 37

Eram quatro horas da manhã. Sem ter bebido uma gota sequer de álcool, ele decidiu ir embora antes de todo mundo. Sem carro, só tinha uma única certeza: iria perambular pelo mundo a pé, redescobrindo o que o dia escondeu. Não sabia, porém, onde iria parar. Caminharia até chegar lá, sem saber o CEP do "lá". E, assim, ele seguiu adiante. Andou curvas retas, subiu longas montanhas, observou os meninos que dormiam sem o cobertor, os rapazes que se sentiam os donos do mundo com os carros dos pais, o grupo de amigos que até hoje se reúne em frente ao prédio. Ele observava tudo de maneira calada. Algumas vezes, pensava em várias pessoas das quais sentia bastante falta, sem saber, de fato, o quanto sentia falta delas.
Eram quase cinco horas da manhã. O Sol ameaçava nascer, e ele ainda não tinha chegado lá, embora o "lá" não estivesse tão lá. Tão perto. Tão perto... a noite ainda desvendava o que o dia esqueceu, de propósito, de revelar. Mas ele não queria descobrir todos os mistérios... outras caminhadas, por aí, até "lá", ainda serão uma regra.

domingo, fevereiro 17, 2008

Caminhando a favor do vento - 36

As luzes acesas. A cidade, horas antes tão movimentada, está tão vazia. Alguns sussurros. E um diálogo travado no centro de uma das maiores cidade do mundo. "São escolhas. E, quando você escolhe, deixa de lado outro detalhe". Alguns cansados aguardam o Sol nascer. Outros riem, bebem, se esquecem na calada da noite. "Eu sei...". Um encontro. Mais uma caminhada com poucas testemunhas.
Uma despedida que persiste em não se tornar protagonista. São muitas reticências. Alguns pontos de interrogação? "Queria ficar mais". Uma certeza, mesmo que incoerente. Faltou firmeza na afirmação. O vento os deixam com frio. A espera ainda espera cerca de dez minutos. "Pode ir embora". As horas passam rápido... logo mais chega mais um dia.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Um presente para quem? - 35

Lembrei-de de um presente que ainda não te dei. Entre revistas, jornais, documentos e algumas lembranças esquecidas no armário que pouco é aberto, lembrei-me de uma simples lembrança que gostaria de compartilhar com você. Em contrapartida, porém, não sei se irá gostar. Logo, penso uma, duas, três vezes antes, até dormir - ontem foi assim -, para entender se posso passar para as suas mãos o instante parado.
A razão de minha dúvida é porque, embora eu te conheça - apesar das ressalvas -, não sei exatamente como irá reagir. Na primeira vez que lhe dei um presente, você quase chorou. Eu cheguei a ver lágrimas em seus olhos, que, infelizmente, teimaram em não cair. Eu chorei... confesso! Foi a única vez que compartilhamos uma lembrança? Não... você, disfarçadamente, passou um bilhete para as minhas mãos certa vez. Eu achei estranho, confesso. E, ao ler o que estava escrito, chorei novamente. Sozinho. Muito. Já com muitas saudades.
Apesar de tudo isso, ainda tenho medo. E, por essa razão, eu lembro da canção que eu não vou escrever para você, pois não te conheço de fato, não sei o cheiro, não sei o tato...
Cadê você?

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Jogará tudo fora? - 34

De uma hora para outra, imaginei ela jogando todas os presentes que eu dei fora. E, não satisfeita, eu a imaginei pedindo que eu fizesse o mesmo: que eu também jogasse no lixo as fotos que fizemos juntos e estão devidamente guardadas em uma caixa de sapatos em meu armário (mas preservadas em minha memória); que eu deletasse os e-mails que eu preservo (foram tantas verdades recíprocas, acredito eu); que eu apagasse o telefone da agenda do celular (mas, minha cara, a seqüência numeral eu já sei de cor); que eu transformasse a imagem dela em uma inexistente (impossível, embora tantas vezes eu tenha vontade de realmente esquecê-la).
Confesso que só ao imaginar tais cenas - que seriam recheadas de choro e frases desconexas? - bateu uma tristeza impossível de ser medida. Ainda não estou preparado para a realidade... não mesmo.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

I´ve been so tired - 33

Desculpe-me, estive tão cansado. Tão cansado que não consegui ouvir o seu monólogo. Tão cansado que, ontem, cochilei ao assistir ao filme que eu mesmo escolhi. Tão cansado que, ontem, ao dormir não sonhei com você. Tão cansado que, mesmo após lavar o rosto, as marcas do sono ainda permanecem.
Desculpe-me se não pude ir até o meio da rua para pular algumas ondas. "Não teria forças", pensei em responder, caso você me chamasse para encarar a noite. E o que você pensaria? "O que será que irá pensar?", os meus pensamentos prosseguiram. E, permeado por pensamentos, eu dormi. Tanto... nem sei quantas horas. Acordei tarde, ainda anestesiado do cochilo profundo. "Foi tudo um sonho?".

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Até daqui a pouco - 32

Não existe distância quando há sinceridade. Não existem quilômetros nos separando, quando é possível respeitar o silêncio do outro. Não há cidades, sotaques e olhares diferentes. Na verdade, o que existe é um respeito absurdo. E aí não importam as cervejas que eu tomo, a água que você cospe fora, os deuses que eu costumo cultivar, a mentira que você nega...
Você pode estar em tanto lugar... eu, de alguma forma, mesmo na contramão, sigo seus passos. Assim como você, sem querer, olha no retrovisor para saber se está tudo bem comigo. Seguiremos nossos trajetos. Se for preciso, creio eu, sei que construirá uma ponte para mim. Eu já tenho tijolos para ajudá-lo a levantar a casa.
"Por onde você anda mesmo?", pergunto eu. "Por aí", diz você... eu sei! Nós sabemos!

P.S: não postei nos últimos dias, pois não tive tempo. Desculpe-me!

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Cadê o sono? - 31

Era aproximadamente quatro horas da manhã quando ele percebeu que ainda estava acordado. A música que cantarolava não o ajudou a dormir... Ele queria tanto sonhar contigo. Sabia, porém, por que não conseguira descansar. Era ansiedade em descobrir o novo. Mais um passo. Uns disseram que se tratava de um passo largo... Ele, porém, preferia pensar que eram conseqüências de seus atos repentinos.
"Já é quase dia", ele pensa. Ele vai dormir... pouco!

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Cenas de uma segunda de Carnaval - 30

Ele não tinha fantasia. Para se esconder do mundo, pegou a blusa e colocou sobre os olhos. Sentiu-se sozinho no meio da folia, onde crianças fingiam ser alguns animais incomuns em seus cotidianos. Leões, cobras, sapos... "eu sei imitar melhor", uma gritou. Ele continuou a andar por aí, ainda se escondia do mundo... E, ao deixar a luz atingir os seus olhos, deu uma bela gargalhada e jogou-se no chão... Já estava misturado na fauna do concreto paulistano.
No último andar do prédio, porém, o jornalista se embebedava, imaginando uma Lapa que, segundo ele, felizmente voltou a existir. Sua musa ainda se escondia debaixo da maquiagem disposta sobre a mesa de canto. E antes de dizer o quanto a amava, bebeu uma, duas, três doses da melhor pinga do boteco de mentira. Cantava também outras versões de outras versões de marchinhas carnavalescas...
E, já de noite, no frio da garoa que não desabava do céu sem estrelas, o rapaz aguardava o ônibus. Imaginava uma série de canções... e cantava, sem o objetivo de ser aplaudido. Aplausos, ele tem preferido não escutar... os silêncios têm sido mais sinceros.

domingo, fevereiro 03, 2008

Um sinal de fumaça - 29

Já não existiam cartas. Ele desaprendera a escrever o próprio nome, e as palavras que desvendariam o segredo dele já não ganhariam a imortalidade em um papel em branco. Ele precisava de uma pessoa para escrever por ele. Ele precisava de alguém para escrever, primeiro, o sujeito, depois o verbo e, enfim, o predicado, termos que diriam o amor que sentia.
Ele, então, apelou para o telefone. Mas, ao discar os números, ao ouvir a voz do outro lado da linha, desaprendera a falar o "alô? Tudo bom?", e aquele silêncio reinou absoluto. Uma silêncio que durou dois minutos e trinta e dois segundos. Em seguida, um monólogo se tornou soberano: do outro lado da linha, surgiam sílabas inesperadas: um vai-e-vém de adjetivos necessários para crer na mentira precisa... Mal sabia ele que era tudo verdade.

sábado, fevereiro 02, 2008

Noite ilustrada - 28

Não são necessários muitos detalhes para ilustrar uma noite sem lua. Não é preciso muito dinheiro, nem mesmo roupa de gala. Basta uma mesa, alguns copos quase vazios de cerveja e muita verdade transmitida de um lado para outro. E nem é preciso se afogar na bebida... o que vale mesmo é o olho no olho, conhecer o novo, rever o velho e ter a certeza de que o caminho é este, esse e aquele ali. Todos, talvez. Com isso, descobrimos o quanto as trajetórias se cruzam, dão retorno... há de ter sempre um estacionamento.